27º Encontro de Cavalo Marinho na casa da Rabeca em 25/12/2022
Antes de ir, eu li no livro do SESC, o que era o cavalo-marinho, vi uns vídeos para saber o que era a Sambada do Encontro de Cavalo-Marinho. Foi ótimo, porque não sabia de algumas coisas técnicas, por exemplo, que cavalo-marinho vem do capitão marinho, que veste um cavalo de brinquedo, e que os personagens estão entre humanos e animais fantásticos e que antigamente a mulher não podia brincar a brincadeira!!
Foi bem legal, chegar e ver o cortejo da avenida, até a entrada da casa da rabeca, vimos o cavalo-marinho de salustiano, tinham tantas mulheres coordenando o brinquedo, que pensei, ainda bem que o tempo passou… Achei ótimo ver seus corpos que ganhavam uma força como nunca, um molejo, que as vezes nem sabia se era ali um homem ou uma mulher. As crianças menores, mesmo pequenas, usavam vestidos meninos e meninas, porque essa era a roupa da brincadeira, a fantasia, o figurino, não importa, era o que colocava a criança ali, presente e viva.
Os cavalos-marinhos
Dançamos muito!! Com os galantes e foi bem gostoso se experimentar, tava esse clima leve de curtir e matar a saudade, todo mundo sedento por cultura e arte depois da pandemia, principalmente com o cavalo-marinho. Como Mayra disse, a bolha é muito fechada, as mesmas pessoas, mesmas caras, mesmos estilos, gente filmando, desenhando curtindo, um pessoal mais alternativo. De adulto à criança ali dançando todo mundo junto.
Teve uma hora que 6 rodas de cavalo-marinho estavam acontecendo ao mesmo tempo. Hora ia em um e depois em outro, várias figuras foram entrando. Logo ao lado, o cavalo-marinho de mestre Biu e Nice de Condado/PE chegaram e tomaram conta, uma potência de cavalo-marinho, pessoas mais velhas e mais experientes no banco, nas figuras, foi encantador. Entraram primeiro o capitão e segue o trabalho: tomar conta do terreiro.
Esse Mateus e Bastião sentaram no chão e como figuras jocosas e com suas bexigas de Boi batiam em todo mundo ao redor.
- adendo
Escrevo agora e sinto, vejo escancarado à minha frente como estou vulnerável, acabo de ler a notícia de um ator e ele diz essa frase e roubo dele “porque você está bem, com momentos alegres e mesmo assim a dificuldade de se alegrar e sentir aquele quentinho no coração” Vem uma vontade de chorar, porque não acho mais aquela alegria que tinha antes da pandemia? =( e porque? Poxa, realmente me abalou muito tudo o que vivi e não pude processar. A dor da solidão, a morte de Ana (minha psicóloga de 10 anos), estar longe da família com risco iminente de morte, um namoro difícil com muitos conflitos, ganhando pouco dinheiro, querendo mudar de rumo, a situação abusiva no terreiro, a mediunidade aflorando, família brigando e se separando…Enfim, agora, quero só virar a página! Voltar a sair, voltar a me divertir… Como se nada? Não! “Meu corpo tem marcas que não dá pra apagar…” Marcas de algo nesse meio do caminho aconteceu. Parece o mesmo ciclo pós adoecimentos (2014) de novo. Preciso olhar isso e absorver, entender e ultrapassar ele. Achei que tinha, mas até voltar e sentir algo parecido, vi que não é bem assim. Não olhei direito para isto? O que é ficar mais fraca? E não dar conta de ir, mover, ser forte, dançar, aguentar fazer arte com o próprio corpo?
Mas aí vem: O mergulhão
Aqui foi onde eu senti realmente o teste com o meu corpo, porque, antes de formar o Mergulhão, o mestre abre a dança para todos que estão ali assistindo, não são apenas os galantes que brincam, todas as visitas entram com força, e eu? Claro, me joguei ali né! Nossa me senti tão ansiosa, tão nervosa. Era todo mundo tão forte, tão certeiro, ficava com medo de errar, de não conseguir fazer os passos no ritmo da música, mesmo sabendo que eu sabia! Parecia que meu corpo não acompanhava por causa do nervosismo, sei lá, sem força nas pernas direito, dores no joelho, medo de não ser tão forte como a roda pedia. era apertado, se vc não se metesse lá no meio, você não era chamado. A pandemia e 2 vezes com covid me tiraram muitos músculos e pela 2ª vez, me vejo reconstruindo meu corpo para ele poder dar conta de fazer as coisas que gosto e realmente, tenho vontade: a arte, a dança, o teatro, sair, festejar, celebrar a vida.
Hoje sinto que não aguento mais como sustentava antes, são 35 anos que chegaram valendo e ainda meu corpo muito parado e trancafiado num apto de 65m² por 2 anos, foi difícil encarar a força que o mergulhão pedia.
E realmente pareciam vários peixes mergulhando num lago, que nem uma orquestra, ora um, ora outro e numa dança todos seguiam o mesmo ritmo. Eu consegui, fui três vezes, (risos). Mas foi forte sentir aquele ímpeto diante do rio, o ânimo necessário para pular e se jogar é desafiador, para colocar o seu corpo em movimento e não deixar a roda parar de girar, só seguir o fluxo e deixar a água da cachoeira te levar, sem se afogar.