Marina Fenicio

A palhaça

A pesquisa tem orientação da atriz, produtora, brincante, artista circense e palhaça Mayra Waquim, A Maroca, que fará o aprofundamento técnico e artístico com a contrapartida social, a construção de um experimento artístico, apresentado nos locais de execução deste projeto.

Quando dizem que você é alegre demais, conta e faz piada, dizem que você é um palhaço. Mas quando te chamam de palhaça, por gracinhas feitas, é ofensivo. Eu sempre quis rir sem ser julgada, rir bem alto pra contaminar quem estivesse perto e queria que rissem junto comigo. Não penso em como fazer os outros rirem, mas queria rir com as pessoas. Foi quando conheci as brincadeiras populares e as figuras de Mateus e Catirina em Pernambuco. Como espectadora, eu ria COM essas figuras e não DELAS. Era uma troca de sorrisos, altos, como sempre quis fazer.  

No Brasil, as primeiras figuras cômicas surgiram nas festas populares e a composição do palhaço do circo tradicional brasileiro se formou pela diversidade da sua população na época, a qual se constituía de múltiplos povos com variadas culturas, entre povos originários, povos advindos da diáspora africana, povos ciganos e povos da europa.

“A composição do palhaço brasileiro aparece influenciada pela hibridização sociocultural da sociedade, tendo suas referências marcadas pelo tipo de circo que aqui se construiu, bem como também pelas festas populares das mais diversas, fornecendo uma particularidade toda própria a palhaçaria brasileira” (ALMEIDA, 2012, p.32).

Dessa forma, as manifestações populares influenciaram os palhaços brasileiros, na cultura popular, as figuras jocosas aparecem na forma de brincantes, que vivenciam as personagens cômicas pertencentes aos mais diversos grupos de festas, folguedos e carnavais. No nordeste brasileiro, “brincante” denomina a pessoa do povo que está participando dos folguedos e brincadeiras.

Contudo, historicamente esses personagens apenas podiam ser representados por homens, visto que as tradições populares advêm de um período exacerbadamente patriarcal em que as mulheres só podiam participar das manifestações artísticas nos bastidores, costurando e bordando e não tinham espaço para atuar como figuras cômicas. Contexto semelhante à tradição circense que também destinava a função do palhaço somente aos homens.

  Há muito tempo nega-se a entrada da mulher ao universo cômico, sendo este projeto mais um marco de resistência para que mais mulheres artistas circenses consigam aprimorar suas técnicas e investigações com suporte teórico, artístico e apoio financeiro, trazendo qualidade ao trabalho artístico. “A arte da palhaçaria possui um caráter agregador, uma vez que o arquétipo reflete as dinâmicas da própria sociedade da qual o artista faz parte.” (Jesus, 2017), assim é importante que a mulher esteja presente neste universo para que assim possa partilhar da mesma condição do ridículo da nossa sociedade e assim demonstrar a realidade em que atua.

Agora, sigo eu por aqui, adentrando na minha figura, no meu ridículo, na minha comicidade como mulher, democratizando não só os estudos, mas o riso e a alegria por onde eu passar.