No Cavalo – Marinho de Nice, lá de Condado/PE, o banco de músicos era bem grande, as roupas muito bem confeccionadas, camisas floridas e brancas, lindos, chamava a atenção. Vimos o Caboclo se trocandoe corremos para ver. Ele declamava para o banco Loas de seu personagem e depois ele preparava a garrafa de vidro dentro de um pano, quebrava e entre uma loa e outra, abria o pano e desafiava passar por cima deles:
“Olê, olê, olê, olê, olá, eu vi passar, Cabloco Arubá,
Arreia Cabloco pra me ajudar,
Cabloco da mata lá do Juremá,
Cabloco da mata lá do Juremá.
Chuva chovia, trovão, truvejada (2x)
No alto da Serra, estrela encurvava (2x)
Nos ares armei meu balanço,
Nos ares eu me balançava(2x)
No alto da Serra,
Estrela Encurvava(2x)
Tirar meu cavalo pra não entortar,
No meio da mata, Cabloco Orubá (2x)
E aí depois de quebrar em pedaços, em volta do saco, ele canta a LOA desafiando 3x, a primeira ele pisa com os pés, várias vezes e pula. Benze o vidro e passa por ele. A segunda, com a mão passa no rosto, deitado no chão, e a terceira, ele tira a roupa e rola por cima do vidro!! E levanta, como se nada…canta Loas e vai simbora…
Ufa! Foi intenso.
Me lembrei daqueles mercados com o homem da cobra que engole fogo tudo pra impressionar.
É um espetáculo à parte, meus olhos marejaram, foi lindo ver a fé, a entrega, a surpresa, a força e o coletivo trabalhando. Parecia uma incorporação, um momento de fé e ritual no meio da festa profana. Até hoje essa música e esse personagem me impressionam, de como as brincadeiras populares são impressionantemente parecidas com os terreiros de candomblé, umbanda e da jurema. As mesmas pessoas que criaram as duas coisas, hoje brincam e cultuam o sagrado da mesma forma, ambas pela FESTA!